A necessidade de se formar novas lideranças acadêmicas, com habilidades voltadas para a pesquisa inter e transdisciplinar, visando à transição para a sustentabilidade, é o tema de texto-comentário recém-publicado na revista Nature Sustainability (agosto, 2019, v. 2, 647-649).
Os autores, de instituições de oito países em quatro continentes – dentre eles o pesquisador Jean Ometto, coordenador do CCST/INPE e vice-coordenador da Rede Clima – afirmam que, atualmente, os cursos oferecidos nessa área tendem a se concentrar em profissionais da indústria e organizações governamentais e não-governamentais. Em contraste, a formação de uma nova geração de líderes acadêmicos ligados a instituições inter e transdisciplinares de educação e pesquisa para a sustentabilidade tem recebido pouca atenção. “Diante da urgência dos desafios da sustentabilidade, torna-se imperativo dedicar atenção especial ao desenvolvimento das habilidades, experiência e aptidões necessárias aos futuros líderes dessas instituições, para que sejam capazes de fornecer um ambiente onde a ciência inter e transdisciplinar possa florescer”, afirmam.
Como contribuição, o texto descreve as visões coletivas dos pesquisadores autores sobre as características que definiriam a liderança em organizações de pesquisa em sustentabilidade, pleiteiam esforços específicos para o desenvolvimento de futuros líderes de tais organizações e propõem medidas concretas para a academia, governos e financiadores para fomentar essa iniciativa. “Embora a teoria da liderança no meio empresarial esteja bem estabelecida, acadêmicos e instituições de pesquisa, especialmente aquelas com foco em sustentabilidade, não são negócios e, portanto, exigem um conjunto diferente de conhecimentos, habilidades e atributos para seus líderes”, justificam os autores.
Para eles, o desafio dos líderes eficazes de organizações que lidam com a sustentabilidade estabelece normas culturais e direciona seus professores, funcionários e alunos em sete áreas, quais sejam: 1) Visualizar além do status quo; 2) Promover efetivamente parcerias e interações; 3) Harmonizar valores e rigor empírico; 4) Promover o respeito às várias formas de conhecimento; 5) Promover a equidade, a liderança compartilhada e o consenso; 6) Cultivar a agilidade e flexibilidade; 7) Perseverar e ser resiliente em face às pressões substanciais. Os autores ressaltam que os líderes podem não agir diretamente em todos esses aspectos, mas devem encontrar maneiras para que sejam, de alguma forma, observados.
O texto apresenta ainda quatro sugestões para treinar os líderes das organizações de pesquisa em sustentabilidade do futuro. A primeira delas é a criação de novos cursos, pedagogias e formas de entrega focados em treinamento de liderança e desenvolvimento profissional. A segunda é a construção de redes para sustentar uma liderança organizacional eficaz em programas de pós-graduação “cohort-based”, permitindo o aprendizado baseado em experiências compartilhadas, relacionamentos e confiança entre os alunos que ocuparão posições de liderança em sustentabilidade no governo, empresas, sociedade civil e academia. A terceira é o oferecimento de oportunidades de treinamento em que os líderes possam aprender e colaborar com os stakeholders parceiros. Finalmente, são necessárias mais pesquisas sobre a eficácia da liderança das organizações de pesquisa em sustentabilidade para informar o desenvolvimento de cursos, redes e programas descritos acima.
Os autores concluem afirmando que, embora forjar lideranças em organizações de pesquisa inter e transdisciplinar seja apenas uma parte do esforço necessário para alcançar a sustentabilidade, é importante e necessário agir rápido. “Apelamos à academia, governos e financiadores para que criem novos programas que construam uma geração de líderes altamente capazes no âmbito das organizações focadas em ciência da sustentabilidade. A natureza e a escala do problema requerem programas de desenvolvimento de lideranças direcionados para que as instituições de pesquisa em sustentabilidade possam contribuir para entregar um mundo adequado às gerações futuras”, finalizam.
Leia o artigo na íntegra:
Nature Sustainability | VOL 2 | AUGUST 2019 | 647–649 | www.nature.com/natsustain
https://doi.org/10.1038/s41893-019-0357-4
Por: Ana Paula Soares, Divulgação Científica, Rede Clima