A redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), também chamada de descarbonização de setores relevante da economia, foi estudada por cientistas da área econômica da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), do MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações como estratégia para políticas e investimentos na superação da crise e no fomento ao crescimento econômico. Os pesquisadores projetaram, a partir de modelagem econômica e ambiental, como a adoção de medidas dessa natureza podem produzir impactos positivos para a economia brasileira.
O conjunto de estudos produzidos pelo grupo de pesquisa que reúne cerca de 20 acadêmicos está disponível por meio de informes no site do MCTI, neste link. A ideia é que os resultados possam contribuir para a tomada de decisão por parte do Governo Federal, incluindo, por exemplo, o Programa de Crescimento Verde, atualmente em construção.
“A economia brasileira precisa de um vetor de crescimento forte, tanto para a saída da crise como da pandemia. Por isso, é importante que esse investimento seja direcionado para o aspecto da economia que seja mais valorizado internacionalmente, que é a preservação do meio-ambiente”, explica o professor titular do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador da Subrede Economia da Rede CLIMA, Edson Domingues.
Os resultados indicam que o PIB do Brasil poderia crescer 4,25% até 2030 por meio da adoção de tecnologias de descarbonização. O investimento também tem potencial de evitar a emissão de 357,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Foram considerados no estudo os setores de cimento, siderurgia, químico, biocombustíveis, fontes renováveis de geração de energia elétrica, óleo e gás, transportes, edificações, gestão de resíduos, e agricultura e florestas.
Desmatamento ilegal zero no bioma Amazônia – O grupo também investigou os custos econômicos e os ganhos ambientais da política de desmatamento zero no bioma Amazônia, e avaliou como esses custos econômicos poderiam ser evitados com investimento nas atividades que utilizam áreas produtivas como culturas e pastagens.
Os estudos foram elaborados a partir de modelos de análise econômica-ambiental, que são a expertise do grupo de pesquisa coordenado por Domingues. “Desde que a Rede CLIMA passou a nos financiar, temos desenvolvido modelos de simulação para entender questões econômico-ambientais voltadas para redução das emissões de gases de efeito estufa e para o desmatamento e uso da terra”, detalha o pesquisador. O modelo de Equilíbrio Geral Computável (EGC) foi construído com uma base de dados detalhada de transição do uso do solo, mapeando as atividades da agropecuária e produção extrativa de 52 regiões, separadas por estados e biomas brasileiros. Associou-se também a essa base de dados as emissões de GEE que resultam da transição de usos do solo.
O coordenador explica que manter a floresta em pé preserva a biodiversidade e os recursos hídricos, estratégia valorizada no mercado internacional, especialmente quando associada aos produtos agrícolas brasileiros, como as commodities de grãos e carnes, que estão demandando por procedência não relacionada ao desmatamento. Outro aspecto considerado na escolha para o estudo foi o impacto econômico regional dessas atividades, responsáveis por gerar emprego e renda.
Os resultados indicam que a eliminação do desmatamento do Bioma Amazônia para fins produtivos é factível e com custo relativamente baixo, com benefícios relevantes para manter a floresta em pé e sequestrar emissões decorrentes do uso da terra.
Em relação ao impacto econômico do desmatamento zero na Amazônia, a conclusão do estudo é que investir R$ 1,45 bilhões, em 20 anos, nos setores associados ao uso da terra, permitiria neutralizar os impactos negativos da política de desmatamento zero. O valor equivale a 0,02% do PIB da região por ano para duas décadas. A estimativa é que o investimento possa preservar cerca de 10 milhões de hectares de floresta e evitar o lançamento de 40 mil gigagramas de CO2 e na atmosfera. Além disso, pode alavancar o PIB em 0,64%, ou R$ 2,72 bilhões, e gerar crescimento de 0,48% na taxa de empregos.
“Estamos conjugando investimento que estimula atividade econômica e preserva a floresta. Temos duplo ganho para a economia brasileira. Um viés [adotado no estudo] é de que não há desmatamento adicional, isso condiciona o tipo de investimento que precisa ser feito, que requer aumento da produtividade da terra, do capital, do trabalho, melhorar as condições técnicas de produção para crescer sem aumentar as áreas desmatadas”, explica o coordenador.
Os modelos econômicos utilizados pelo grupo buscam capturar duas coisas: a utilização de terras, com seus tipos de cultivos em cada região, a quantidade de terras utilizadas, e todas as atividades associadas, como serviços, indústria, entre outros. Domingues explica que os modelos também analisam a relação entre as regiões do País. Como as regiões do Norte do País, no bioma Amazônia, por exemplo, se relacionam com o Sul para compra de insumos, entre outros. “É um modelo que tem base de dados complexa. Baseado nesse modelo conseguimos realizar simulações. Como seria o impacto de investimento verde, a resposta da economia a esse investimento”, afirma
Nas regiões que formam o bioma Amazônia, o desmatamento acumulado seria de 10 milhões de hectares de 2021 a 2040, dos quais 7,6 milhões de hectares em pastagem e 2,24 milhões em culturas. Esse desmatamento equivale a 526 mil hectares por ano de 2021 a 2040, que em termos de área seria o equivalente a cerca de 740 mil campos de futebol desmatados por ano. No bioma Cerrado, o desmatamento seria de 15 milhões de hectares, 8 milhões deslocados para culturas, 3 milhões para pastagens e 5 milhões para florestas plantadas.
Saiba mais: A Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI), reúne pesquisadores em 17 subredes e mobilizou-se para projetar cenários de recuperação econômica, considerando a descarbonização de setores produtivos e o desmatamento ilegal zero no bioma Amazônia. No total, os estudos entregaram oito relatórios, nos quais os pesquisadores mensuraram os impactos econômicos das medidas sanitárias, ações econômicas necessárias envolvendo investimentos verdes e do desmatamento zero, como estratégias de crescimento sustentável para a recuperação da economia no cenário pós-covid.
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2021/10/estudo-da-rede-clima-aponta-que-economia-brasileira-pode-crescer-4-25-ate-2030-com-investimento-verde