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7 de maio de 2019

Natureza está em declínio sem precedentes, afirma relatório do IPBES



A natureza está declinando globalmente a taxas sem precedentes na história humana – e a taxa de extinção de espécies está acelerando, com graves impactos nas populações ao redor do mundo, adverte o novo relatório do IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, na sigla em inglês), cujo resumo foi aprovado na 7ª sessão do Plenário do IPBES, em reunião na última semana (29 de abril a 4 de maio) em Paris.

O Relatório de Avaliação Global do IPBES sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos é o mais abrangente já concluído. É o primeiro relatório intergovernamental de seu tipo e baseia-se na histórica Avaliação Ecossistêmica do Milênio de 2005, introduzindo formas inovadoras de avaliar as evidências.

Compilado por 145 autores especialistas de 50 países nos últimos três anos, com contribuições de outros 310 autores contribuintes, o documento avalia as mudanças nas últimas cinco décadas, fornecendo uma visão abrangente da relação entre os caminhos do desenvolvimento econômico e seus impactos na natureza. Também oferece vários cenários possíveis para as próximas décadas.

Entre os especialistas que participam como autores do relatório estão os brasileiros Ana Paula Dutra Aguiar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Cristina Adams, da Universidade de São Paulo (USP); Gabriel Henrique Lui, do Ministério do Meio Ambiente; Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, da USP; Pedro Henrique Santin Brancalion, também da USP; Rafael Dias Loyola, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eduardo Sonnewend Brondizio, da Indiana University, nos Estados Unidos; e Bernardo Baeta Neves Strassburg, do Instituto Internacional de Sustentabilidade (ISS).

Ana Paula Aguiar, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do INPE, contribuiu com o Capítulo 5 do Relatório, que trata dos cenários e trajetórias para futuros sustentáveis. “Fizemos uma análise sobre como alcançar a sustentabilidade em todas as suas dimensões, com base em cenários em várias escalas e na literatura de ciências sociais e sustentabilidade”, explica a pesquisadora. “O relatório traz muitos números e fatos alarmantes, mas também discute como reverter a situação. Ainda dá tempo, mas não será com medidas paliativas. É preciso transformar profundamente a sociedade e o sistema econômico.”

Com base na revisão sistemática de cerca de 15.000 fontes científicas e governamentais, o Relatório também extrai (pela primeira vez nessa escala) conhecimento indígena e local, particularmente sobre questões relevantes para esses povos e comunidades.

O Relatório conclui que cerca de 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção, muitas em décadas, mais do que nunca na história da humanidade.

A abundância média de espécies nativas na maioria dos habitats terrestres diminuiu em pelo menos 20%, principalmente desde 1900. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos corais formadores de recifes e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados. O quadro é menos claro para espécies de insetos, mas evidências disponíveis indicam uma estimativa de 10% de ameaça. Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século 16 e mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados ​​para alimentação e agricultura foram extintas em 2016, com pelo menos mais 1.000 raças ainda ameaçadas.

Para aumentar a relevância política do Relatório, os autores da avaliação classificaram, pela primeira vez nessa escala e com base em uma análise minuciosa das evidências disponíveis, os cinco direcionadores diretos da mudança na natureza com os maiores impactos globais relativos até agora. Os responsáveis são, em ordem decrescente: (1) mudanças no uso da terra e do mar; (2) exploração direta de organismos; (3) mudança climática; (4) poluição e (5) espécies exóticas invasoras.

O relatório observa que, desde 1980, as emissões de gases do efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 graus Celsius – com a mudança climática já afetando a natureza do ecossistema à genética. Os impactos da mudança do clima devem aumentar nas próximas décadas, em alguns casos superando o impacto da mudança do uso da terra e do mar e outros fatores.

Apesar dos avanços para conservar a natureza e implementar políticas, o Relatório considera que as metas globais de sustentabilidade não poderão ser atingidas pelas trajetórias atuais, e as metas para 2030 e além só poderão ser alcançadas através de mudanças transformativas dos fatores econômicos, sociais, políticos e tecnológicos. Tendências atuais negativas na biodiversidade e nos ecossistemas minarão o progresso de 80% (35 de 44) das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, relacionadas à pobreza, fome, saúde, água, cidades, clima, oceanos e terra (ODS 1, 2, 3, 6, 11, 13, 14 e 15). A perda de biodiversidade não é, portanto, apenas uma questão ambiental, mas um problema de desenvolvimento, econômico, de segurança, social e moral.

Outras descobertas notáveis ​​do Relatório incluem:

* Três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados pelas ações humanas. Em média, essas tendências foram menos severas ou evitadas em áreas mantidas ou gerenciadas por Povos Indígenas e Comunidades Locais.

* Mais de um terço da superfície terrestre do mundo e quase 75% dos recursos de água doce são agora dedicados à produção agrícola ou pecuária.

* O valor da produção agrícola aumentou cerca de 300% desde 1970, a colheita de madeira bruta subiu 45% e aproximadamente 60 bilhões de toneladas de recursos renováveis ​​e não renováveis ​​são extraídos globalmente a cada ano – quase dobrando desde 1980.

* A degradação da terra reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre global; até US $ 577 bilhões em safras globais anuais estão em risco de perda de polinizadores e 100-300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de inundações e furacões devido à perda de habitats e proteção.

* Em 2015, 33% dos estoques de peixes marinhos estavam sendo colhidos em níveis insustentáveis; 60% foram pescados de forma sustentável, com apenas 7% colhidos em níveis inferiores aos que podem ser pescados de forma sustentável.

* As áreas urbanas mais que dobraram desde 1992.

* A poluição plástica aumentou dez vezes desde 1980; 300 a 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, resíduos tóxicos e outros resíduos de instalações industriais são despejados anualmente nas águas do mundo e fertilizantes que entram nos ecossistemas costeiros produziram mais de 400 “zonas mortas”, totalizando mais de 245.000 km2 – uma área maior que a do Reino Unido.

* As tendências negativas na natureza continuarão até 2050 e além em todos os cenários de política explorados no Relatório – exceto aqueles que incluem mudanças transformadoras – devido aos impactos projetados de mudanças crescentes no uso da terra, exploração de organismos e mudanças climáticas, embora com diferenças significativas entre regiões.

O Relatório também apresenta uma ampla gama de ações ilustrativas para a sustentabilidade e caminhos para alcançá-las através de setores como agricultura, silvicultura, sistemas marinhos, sistemas de água doce, áreas urbanas, energia, finanças, entre outros. Destaca ainda a importância de adotar abordagens integradas de gestão e intersetoriais que levem em conta as compensações da produção de alimentos e energia, infraestrutura, manejo de água doce e costeira e conservação da biodiversidade.

Também foi identificada como um elemento-chave de políticas futuras mais sustentáveis a evolução dos sistemas financeiros e econômicos globais para construir uma economia global sustentável, afastando-se do atual paradigma limitado de crescimento econômico.

O IPBES divulgou também o Resumo para os Formuladores de Políticas (SPM) do relatório de Avaliação Global. O SPM apresenta as principais mensagens e opções políticas aprovadas pelo Plenário do IPBES. Para acessar o SPM, fotos e outros recursos de mídia, acesse: bit.ly/IPBESReport . O relatório completo de seis capítulos (incluindo todos os dados) deve passar de 1.500 páginas e será publicado ainda este ano.

Acesse o arquivo PDF do Sumário Executivo do Relatório

Sobre o IPBES

O IPBES é um órgão intergovernamental independente, estabelecido pelos Estados membros em 2012. Proporciona aos formuladores de políticas avaliações científicas objetivas sobre o estado do conhecimento sobre a biodiversidade, os ecossistemas e os benefícios que proporcionam ao planeta para as pessoas, bem como as ferramentas e métodos para proteger e utilizar de forma sustentável esses ativos naturais vitais.

A missão da instituição é fortalecer as bases de conhecimento para uma melhor política através da ciência, para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, bem-estar humano a longo prazo e desenvolvimento sustentável.

De certa forma, o IPBES faz pela biodiversidade o que o IPCC faz para as mudanças climáticas.

Para mais informações sobre o IPBES, acesse: www.ipbes.net

Assista ao vídeo institucional do IPBES: www.youtube.com/watch?v=oOiGio7YU-M