A Rede Clima, por meio de suas sub-redes Saúde e Economia, está contribuindo com as iniciativas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) visando ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Criada em 2007 para desenvolver pesquisas na área de mudanças climáticas, a Rede foi acionada pela excelência de suas instituições e pesquisadores, além da experiência em modelagem integrada e capacidade de rápida resposta. “A manutenção de um corpo de cientistas atualizados e ativos é absolutamente necessária para qualquer nação, e a Rede Clima é um exemplo de sucesso dessa estratégia em nosso país”, afirmou o pesquisador Moacyr Araújo (UFPE), coordenador da Rede Clima.
O pacote de prioridades anunciado pelo Ministério inclui: a criação da Rede Vírus; uma Chamada Pública em parceria com o Ministério da Saúde lançada pelo CNPq; e um conjunto de encomendas de pesquisas para grupos com reconhecida competência em áreas científicas relacionadas com o combate à pandemia.
Nesse contexto, a sub-rede Saúde trabalha para garantir acesso aos dados do setor de saúde, validação de premissas e modelagem de cenários epidemiológicos para a Covid-19 no Brasil. A equipe de pesquisadores fará uma avaliação da situação epidemiológica atual, projetando cenários dos impactos à saúde causados pela expansão da Covid-19 no Brasil. Para isso, serão utilizadas as informações públicas disponíveis de mortalidade e morbidade e os dados internacionais. “Causas específicas analisadas contemplarão a Síndrome Respiratória Aguda Grave e as pneumonias, assim como sua distribuição espacial e os principais clusters de Covid-19 nos estados brasileiros”, explicou a pesquisadora Sandra Hacon (Fiocruz), coordenadora da sub-rede Saúde. As previsões de médio e longo prazo poderão evidenciar a efetividade das políticas implantadas para o controle do padrão de contaminação da Covid-19.
A sub-rede Economia, por sua vez, irá mensurar e mapear (em setores e regiões) os impactos econômicos de medidas de prevenção relacionadas à pandemia. As principais perguntas a serem respondidas são: Quais os custos econômicos diários de cenários de isolamento e distanciamento social? Quais os setores de atividade mais vulneráveis economicamente? Quais os Estados/Regiões mais vulneráveis economicamente?
“É importante ressaltar que a nossa resposta imediata e ágil às solicitações do MCTIC foi possível graças a investimentos prévios no âmbito da Rede Clima, que possibilitaram a formação de uma equipe de modelagem econômica altamente capacitada para responder a tais demandas de forma qualificada”, afirmou o pesquisador Eduardo Haddad (USP), coordenador da sub-rede Economia.
Serão modelados (i) os cenários epidemiológicos em um modelo econômico, (ii) os efeitos econômicos da pandemia e (iii) os efeitos das políticas de emergência para enfrentamento dos impactos econômicos causados pela pandemia.
Para cada Estado brasileiro e o DF, e para até 67 setores da economia, o estudo estimará os custos de diferentes estratégias de isolamento e distanciamento social (Etapa 1). Uma vez reconhecidos estes custos, será possível avaliar os impactos de medidas mitigadoras de natureza compensatória implementadas pelo governo federal (Etapa 2). O trabalho deverá ser concluído no prazo de 60 dias.
Além disso, em uma terceira etapa, serão projetados os impactos de longo prazo na economia brasileira (mercado de trabalho, produtividade, perda de renda, desemprego, capacidade produtiva, investimento público e privado), para posterior identificação de políticas públicas para recuperação socioeconômica da pandemia no longo prazo.
Segundo Haddad, a principal dificuldade no desenvolvimento deste trabalho está ligada à luta contra o tempo. “Não há muitos graus de liberdade para novos desenvolvimentos metodológicos. Temos que trabalhar dentro dos limites do possível, com as ferramentas de que dispomos, adaptando-as de forma criativa”, explicou. “Felizmente, há um estoque de conhecimento acumulado nos últimos anos que nos dá segurança para endereçar os problemas que nos foram colocados da melhor forma, dentro do estado da arte de nossas áreas”.