Embora a influência da mudança do uso da terra na qualidade da água seja razoavelmente compreendida, seu papel na quantidade de água é controverso.
Estudo realizado na Bacia do Rio Tietê, que abastece a megacidade de São Paulo, explora a interação entre a hidrologia, a mudança do uso da terra e as mudanças climáticas, que também afetam a disponibilidade de água, em uma das áreas urbanas mais populosas do mundo. O trabalho, apoiado pela Rede Clima, acaba de ser publicado na revista Science of the Total Environment.
O artigo, intitulado “Can forests buffer negative impacts of land-use and climate changes on water ecosystem services? The case of a Brazilian megalopolis”, tem como autores Paula Ferreira, Arnout van Soesbergen, Mark Mulligan, Marcos Freitas e Mariana M. Vale, estes últimos coordenadores das sub-redes Energias Renováveis e Biodoversidade e Ecossistemas, respectivamente.
Para examinar o potencial das florestas de absorver os impactos negativos do uso da terra e das mudanças climáticas nos serviços ecossistêmicos da bacia estudada, os pesquisadores modelaram seis parâmetros hidrológicos usando o Sistema de Suporte a Políticas da WaterWorld, simulando a linha de base atual e seis cenários futuros (com uso da terra e mudanças climáticas).
Além de corroborar a tendência geral de que o aumento da cobertura florestal melhora a qualidade da água, a modelagem indica que a maior cobertura também aumenta a quantidade de água na parte sul da bacia (região da Grande São Paulo). Os efeitos das mudanças climáticas são observados principalmente em áreas urbanas, com uma redução na qualidade da água. Como as áreas urbanas não são elegíveis para o reflorestamento, elas não podem se beneficiar do efeito amortecedor das mudanças climáticas.
O aumento da disponibilidade de água é o maior benefício do reflorestamento como estratégia para melhorar os serviços ecossistêmicos relacionados à água na região. O reflorestamento, no entanto, não será suficiente para restaurar todos os parâmetros hidrológicos na bacia, sendo necessárias práticas agrícolas sustentáveis adicionais para mitigar os impactos na qualidade da água.
Por Ana Paula Soares
Divulgação Científica – Rede Clima